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segunda-feira, 11 de julho de 2011

LONGEVIDADE & ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL


A ciência do envelhecimento, motivada por encontrar a fonte da juventude ou pela curiosidade de entender como e por que envelhecemos, vem crescendo bastante e muitas informações sobre os mecanismos moleculares e celulares, envolvidos no processo de envelhecimento, estão sendo estudados. Diversas são as tentativas de explicação para esse processo, desde os questionamentos à teoria evolutiva de Darwin até o esclarecimento de como ocorre o envelhecimento em seres vivos menos complexos como leveduras, larvas e ratos. Atualmente, o que se sabe é que o envelhecimento pode ser caracterizado como um processo de impedimento progressivo e generalizado de funções que resulta no aumento do risco de doenças e morte, acompanhado pela diminuição da fertilidade, e que esse processo é multifatorial, sendo influenciado por vários aspectos como a saúde mental e os hábitos de vida.
A reportagem “Os novos caminhos para a longevidade”, publicada na revista Isto É, traz descobertas que revelam a influência da personalidade, do relógio biológico e da quantidade de alimentos ingerida para garantir uma vida mais longa e saudável. Segundo a matéria, estudos revelam que indivíduos de temperamento irritadiço, mais propensos a neuroses, estão sujeitos a prejuízos na atenção, emoções e memória. Respeitar o relógio biológico, ou ritmo circadiano, também é importante. Os autores afirmam que preservar o sono e fazer refeições no mesmo horário ajuda a regular o ritmo biológico, prevenindo alterações e doenças. Em relação à alimentação, enfatizam a importância da restrição calórica e do consumo de uma dieta saudável como fatores determinantes para prolongar o tempo de vida.
O mecanismo biológico responsável pelo efeito da restrição calórica na longevidade ainda é controverso; no entanto, algumas hipóteses têm sido propostas, tais como a redução da gordura corporal, com melhora da sinalização da insulina; e a redução da produção de espécies reativas de oxigênio, com consequente atenuação dos danos oxidativos.
As alterações fisiológicas, importantes durante o período de privação calórica, são iniciadas com a redução da concentração de glicose no sangue, ocasionada pela baixa ingestão de energia proveniente da dieta. Isto leva a uma diminuição da produção de insulina pelas células beta do pâncreas e, consequentemente, a uma diminuição do depósito de tecido adiposo, que é um órgão endócrino capaz de produzir hormônios ativos em todo o organismo, como o fator de necrose tumoral-alfa (TNF-alfa), a resistina, a adiponectina e a leptina. A alteração do depósito de gordura poderia modificar a secreção desses hormônios, como liberar maior concentração de adiponectina e menor concentração de TNF-alfa, melhorando a sensibilidade à insulina em diversos tecidos, como o muscular e o hepático. Essas mudanças endócrino-metabólicas poderiam promover maior expectativa de vida.
As espécies reativas de oxigênio (ERO), ou radicais livres, são formadas pela respiração celular, sendo o ânion superóxido (O2-), o peróxido de hidrogênio (H2O2) e o radical hidroxil (OH-) os mais conhecidos. Estas moléculas oxidam parcialmente outras moléculas que se encontram próximas, tais como lipídeos, proteínas ou ácidos nucleicos (DNA e RNA). Além disso, as ERO ativam um fator de transcrição pró-inflamatório denominado NF-κB, responsável pela transcrição de proteínas pró-inflamatórias como TNF-alfa e interleucinas 1, 2 e 6. Os danos oxidativos, assim como a ativação de genes pró-inflamatórios, causados pelas ERO, estão fortemente relacionados ao envelhecimento e à patogênese de diversas doenças crônicas não transmissíveis, como aterosclerose, diabetes, artrite reumatoide, desordens neuro-degenerativas e câncer. A restrição calórica parece promover melhora nos danos oxidativos, com a supressão da expressão e da ativação do NF-κB.

A privação calórica também parece regular genes envolvidos no reparo celular, na resistência ao estresse, na proteção contra danos oxidativos e na prevenção de algumas alterações que ocorrem com a idade. Em leveduras, descobriu-se que o efeito determinante da longevidade era mediado pela indução de um gene chamado silent information regulator 2 (regulador de informação silenciosa 2, ou Sir2). Estudos mostraram que a Sir2 pertence a uma classe de proteínas chamadas sirtuínas. Em mamíferos, sabe-se que há sete genes de sirtuínas, sendo a sirtuína 1 (SIRT1) a mais parecida com a Sir2, e que a restrição calórica aumenta as concentrações dessa molécula. Esse aumento leva à redução do metabolismo energético, que submete o organismo a um desgaste menor, reduzindo assim a produção de substâncias que agridem as células, como as ERO. Tal mecanismo tem sido associado ao maior tempo de vida.
Estudos em animais demonstram que a restrição de 10% a 50% das calorias totais diárias levam ao prolongamento do tempo da vida e ao envelhecimento com menores índices de tumores, doenças cardiovasculares e problemas de aprendizagem e memória, mas ainda não está estabelecido se teria o mesmo efeito benéfico sobre a longevidade de humanos. Entretanto, estatísticas mostram que a escassez de comida durante a Segunda Guerra Mundial foi associada a uma diminuição de mortalidade por doença coronariana em países europeus.
A matéria também descreve que não basta comer menos, mas também é essencial cuidar da qualidade do que se come. Pesquisas recentes sugerem que o consumo de substâncias, como fitoquímicos e aminoácidos, também desempenham papel fundamental para a promoção da longevidade.
Os fitoquímicos, também conhecidos como compostos bioativos, são substâncias encontradas nos vegetais e conhecidas por oferecerem proteção contra ataques de insetos e doenças nas plantas, mas que também apresentam uma série de benefícios à saúde humana. O texto descreve a atuação dos fitoquímicos presentes no chá verde, própolis, geleia real, romã, salmão, sardinha, suco de uva, vinho tinto, alho, cúrcuma, ginseng, quinua, arroz integral, aveia, azeite de oliva, castanha-do-Brasil, frutas vermelhas, gengibre, óleo de coco, tomate, brócolis e soja como importantes para a prevenção do envelhecimento da pele, do cérebro, das artérias e dos ossos. Em todos esses alimentos encontram-se compostos bioativos com capacidade antioxidante, anti-inflamatória e anti-carcinogênica, o que explica seus benefícios à saúde. Também são citados os papéis de aminoácidos como a metionina e a cisteína na regeneração dos tecidos, na destoxificação hepática e na prevenção de doenças cardiovasculares, neuromotoras e degenerativas, como a doença de Alzheimer.
Outro aspecto abordado é o incentivo à diminuição do consumo de refrigerantes, apresentando evidências que demonstram a redução do tempo de vida pelo excesso de consumo de fosfato, presente em grande quantidade na bebida. Outros fatores também poderiam ter sido abordados, como o aumento do consumo de gorduras trans, sal e açúcar pela população brasileira, como demonstram os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE. Segundo a POF, o brasileiro tem deixado de consumir alimentos basicos como arroz, feijão, frutas e verduras, e aumentado o consumo de alimentos processados e industrializados, o que, além de representar menor oferta de carboidratos complexos, fibras, vitaminas, minerais e compostos bioativos, aumenta a exposição a xenobióticos, como aditivos químicos e adoçantes artificiais, e a disruptores endócrinos como o bisfenol A. Essas substâncias estão associadas ao desenvolvimento de disbiose intestinal, alergias alimentares, sobrepeso, obesidade, resistência à insulina, diabetes, câncer, entre outras condições que reduzem a qualidade e a expectativa de vida.
Mais importante que as estratégias para se descobrir os mecanismos envolvidos com o envelhecimento, ou as fórmulas que levem à longevidade, são os fatores capazes de propiciar maior tempo de vida com qualidade. Há muito se fala sobre aumento da expectativa de vida como um dos índices de desenvolvimento de um país e que fazem com que ele seja classificado como subdesenvolvido, em desenvolvimento ou desenvolvido. A expectativa de vida acima dos 73 anos pode parecer ponto favorável para uma população. Mas até que ponto devemos nos preocupar com a quantidade de tempo vivido? Mais importante que isso é valorizar as condições que levem a um envelhecimento saudável, livre de doenças crônicas não transmissíveis e de condições que afetem o bem-estar físico e mental e a qualidade de vida das pessoas.
* Texto elaborado pela Dra. Camila Almeida Menezes, aluna bolsista do curso de Pós-graduação em Nutrição Clínica Funcional pela VP Consultoria Nutricional/ Divisão Ensino e Pesquisa.

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